Ter prazer é o programa oficial para a família ocidental de hoje. É um bom programa, melhor até do que o anterior que assentava na cooperação e na reprodução. O problema é que é um programa curto. A maioria das pessoas divorcia-se porque deixa de ter prazer na convivência com o outro. Este desprazer pode advir da essência ou dos reflexos dos aromas ( jogo subterrâneo, recusa da humilhação, etc). Uma vez livre, a pessoa inicia outro projecto de prazer familiar. Tudo correcto. Subsiste, no entanto, um pequeno aroma a rolha na degustação. A antiga estabilidade da família , robusta e encorpada, desaparece para dar lugar a um arranjo molecular altamente volátil. Como ainda somos animais, transportaremos este hábito para o espaço social ( repetição, repetição, já dizia o Deleuze das longas unhas). Daqui decorre que em breve os alunos de sociologia substituirão a ladainha "o homem é um ser social" por outra mais tautológica: "o homem é um ser individual".
Você assusta-me!!Comemorei 25 anos de feliz casamento, em 3 de Abril passado.Hesito em pensar se estou mesmo passado de validade ou então " a dying breed..."
Casamentos "sempre felizes" durante décadas, são uma fábula. Um casal não é um par de irmãos siameses.A sincronicidade de contentamentos ao longo de décadas não é exequível. Perguntaram um dia a Sophia de M. B.: -Está sempre de acordo com o seu marido? -Não. Senão um de nós, não pensava.
Claro que, dependendo de muitos factores, há fundas solidariedades que mantêm essas uniões. E, conhecendo algumas, considero essas pessoas muito mais sábias e conhecedoras do que se chama vida do que os aparentemente experimentados, de vários casamentos. Estes últimos nunca têm acesso à "obra completa". Vão apanhando umas edições avulsas de autor incerto.
E quanto ao prazer, não é um valor "democrático". Há uma grande diversidade de hierarquias.
No caso do TCA, a culpa vai inteirinha para a Rolha, a sua presença, ainda que em ínfimas quantidades, é detectada imediatamente no início da desgustação, dando inteiro direito à troca de garrafa (o produtor só agradece!). Em analogia ao "sabor a rolha", na problemática que hoje discute, acho que parte também advém no que nos "enfiam" no gargalo ou seja no que hoje se considera "sensato" pelos casais. E isto depende, em muito no que é socialmente aceite e promovido (ai os media...). Daí não concordar na teoria da substituição do "animal social". Mais diria, a maioria das causas de divórcio e os fenómenos posteriores ao evento têm o dedinho do "marketing social" e puxam muito pouco pela criatividade individual (e do casal). Claro que existem problemas, tende-se é a resolvê-los todos pela mesma bitola- a incompatibilidade.
Hei-de pôr aqui uma coisa interessante de 1947. By the way, talvez a troca permanente que eu faço com o seu nome e com o da Teresa se deva ao facto de eu ter duas irmãs com os vossos nomes.
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