Mar Salgado

domingo, fevereiro 24:

A ORIENTE DO ORIENTE (V):

Uma das primeiras coisas que os taliban fizeram quando tomaram o poder em Kabul foi proibir o boletim metereológico: prever o futuro é uma prerrogativa exclusiva de Alá. Outra medida importante dirigiu-se à barba dos homens: tinha de ser suficientemente longa para que um mullah a pudesse agarrar e ver pêlos a sair da base do punho. Quem falhasse o teste era espancado. As mulheres, para além das habituais restrições de indumentária, foram alvo de uma interdição particularmente dura: só podiam sair de casa acompanhadas por um familiar adulto do sexo masculino. Muitas viúvas ( a guerra durou muitos anos) não tinham maridos ou irmãos: ficaram votadas a morrer de fome ou ao espancamento continuado.
Isto que descrevi ( com ajuda de J. Hafvenstein) é um exemplo de Islão fanático. Já este artigo de Nezha Elouafi mostra como as coisas mudam e podem mudar. Em 2003, 10,8% dos deputados marroquinos eram mulheres. Os dois cenários são islâmicos, em ambos se nota o peso do papel tradicionalmente atribuído à mulher ( leiam as queixas da Nezha), mas no entanto existem diferenças. Quando se passa a mensagem que o Islão é irreformável, estamos a condenar as mulheres muçulmanas ao castigo dos taliban. Estamos a ser taliban.

 

posted by FNV on 12:02 da tarde #

Comments:

Caro FNV,
Um comentário será pequeno para dizer o que quero. Mas uma pista.
A questão será o Islão ser ou não reformável ? Se o for estamos a discutir reformar uma religião em sociedades onde fora do islão pouco há.
Mesmo escritores / pensadores ( dos que eu leio ou li ) como Sardar discutem/ analisam sempre o Islão como a possibilidade de um modelo político alternativo aos existentes...e aí é que porca torce o rabo ( sem ofensa) .
Ao considerarem que o Islão é fundamental para eles onde ficamos na discussão fora da religião ?
Cumprimentos

# posted by  António P. : 5:05 da tarde

 

Caro António,
O Islão é, em certas zonas, a sociedade. E a sociedade é sempre transformável. Mas de facto é um problema quando não existem alternativas...visíveis.
Continuaremos, não é?
Abraço

# posted by  FNV : 10:23 da tarde

 

Caro FNV,
Claro que continuaremos.
Dois tópicos :
- "O Islão é, em certas zonas, a sociedade " e nalgumas não foi à base da conquista e da dominação ? E em zonas onde não havio os ímpios.
- sobre as alternativas visíveis continuo à procura de as ver ou que alguém as mostre.
Abraço

# posted by  António P. : 10:33 da tarde

 

Esta do islamismo, interessa-me.

O que me mete mais impressão é continuidade das práticas arcaicas e desumanas, mesmo em famílias que trabalham e vivem na Europa. Os chamados "crimes de honra", por exemplo. Ainda o ano passado foi notícia o assassinato de uma jovem paquistanesa pelos
irmãos,em Inglaterra, por não se ter submetido ao casamento arranjado pela família, com um homem bastante mais velho.

Depois há aquelas práticas horrendas das mutilações genitais em miudinhas de7, 8, 9 anos, que mercê da emigração da Guiné-Bissau - onde o islamismo é frequente - para Portugal, já se praticam, clandestinamente, em Lisboa.Há mais de 20 anos que leio reportagens em alguma imprensa francesa sobre essa verdadeira tortura(e tremendo sofrimento, devido às condições precárias em que é feito) de crianças e atentado aos Direitos Humanos.

Consterna-me que certa esquerda seja tão passa-culpas para Tal "multiculturalismo", que inclui essas selvajarias, só porque é preciso ser anti-semita e "bater" em Israel.

Mas, concordo que há muitas diferenças nos arcaísmos; desde as burkas "talibanesas" até à Arábia Saudita, onde existem as mais incríveis restrições: desde assomar a uma varanda dum apartamento ou conduizir um veículo.

Mas, caro navegante,tenhamos esperança, concordo que em certos países houve progressos. Também li, há já tempos, que o actual rei de Marrocos, extinguiu o hárem do pai, quando subiu ao trono, mandando as senhoras e meninas, para as suas terras de origem, com uma boa pensão vitalícia....

Digamos que ser profissional de harém é óptimo para certas "seguranças sociais"...
Desculpe esta minha intromissão, mas o azul do seu "mar" é muito cómodo para a minha vista.

Vou lendo. E gosto.

I.

# posted by  Logros : 2:07 da manhã

 

Vida Involuntária, só uma pequena correcção: as práticas da mutilação sexual feminina, q tão bem descreve como horrendas, não são apanágio do islão e nem é a este que podem ser imputadas "responsabilidades". Existem nas zonas de áfrica onde a excisão é comum comunidades judaicas (os falachas, por exemplo) e cristãs que tb. a praticam. Ou seja, a excisão tem muito mais a ver com costumes ancestrais pré-islamização (ou cristianização ou whatever) que com o islamismo. Não resisto a indicar-lhe um link:
"Ce qui semble certain est que cette pratique , qui a résisté à l'épreuve du temps, n'est liée à aucune religion particulière . Elle aurait été inventée par les pharaons qui la pratiquaient pour préserver la chasteté de leurs épouses quand ils partaient en guerre. Elle aurait existé chez les Phéniciens , les Hittites, les Éthiopiens , les ethnies païennes des zones tropicales d'Afrique et des Philippines, les Incas du Mexique , des ethnies d'Amazonie et d'Australie . Chez certains peuples , on croit que les êtres humains naissent naturellement bisexuels . Le prépuce doit être enlevé à l'homme pour lui donner sa masculinité ; on doit soustraire à la femme son organe viril , le clitoris, afin d'assurer sa pleine féminitéCe qui semble certain est que cette pratique , qui a résisté à l'épreuve du temps, n'est liée à aucune religion particulière . Elle aurait été inventée par les pharaons qui la pratiquaient pour préserver la chasteté de leurs épouses quand ils partaient en guerre. Elle aurait existé chez les Phéniciens , les Hittites, les Éthiopiens , les ethnies païennes des zones tropicales d'Afrique et des Philippines, les Incas du Mexique , des ethnies d'Amazonie et d'Australie .(...)"
http://www2.ohchr.org/english/issues/religion/III4.htm

ou este:

http://www.reproductiverights.org/pdf/fgmhandbook.pdf
em que se afirma, entre outras coisas, "FMC is a cultural, not a religious practice"

# posted by  Shyznogud : 11:52 da manhã

 

Filipe, continuas em alta (tal como tal Lisandro López). Vou tentar responder.

# posted by  Pedro Picoito : 2:53 da tarde

 

Obrigada. Do uso africano, já sabia.Parece que aqui para a Europa, era mais o "cinto de castidade", já nas épocas medievas. E as explicações do arcaismo antropológico do rito (que em muitos casos não se restringe só à clitorectomia)não adiantam muito, Pois é precisamente baseados na desculpa de tradições coevas e multiculturalistas, que os governos africanos se têm borrifado para o esforço, ao longo dos anos, de diversas organizações humanitárias internacionais.

Sim, porque os fenícios e os hititas já desapareceram há muitos milénios...
Cumprimentos.

# posted by  Logros : 5:59 da tarde

 

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