HÁ UM TEMPO PARA BRINCAR…II: Um segundo ponto, que não me parece menos importante e não vejo tratado: o Primeiro-Ministro já confessou perceber perfeitamente que as pessoas tenham dúvidas sobre a sua licenciatura. Compreenderá seguramente também que, perante a singular coincidência de, a cada facto novo, surgirem e multiplicarem-se mais e mais incongruências, as pessoas mantenham as suas suspeitas. Ter afirmado que era perfeitamente natural formar-se a um domingo, dia 8.9.96, sustentando depois que foi inequivocamente a 8.8.96 que se formou, e não a um domingo, e ver agora os que o formaram a jurar que foi no tal domingo de Setembro é, no mínimo, complicado e não ajuda a clarificação alguma.
Não duvidará ainda o Primeiro-Ministro que esta estranha atitude dos Inspectores da Inspecção-Geral do Ensino de, numa inspecção generalizada, andarem a pedir especificamente os seus registos, avoluma enormemente as suspeitas e, pior, faz pensar aos portugueses que o próprio Primeiro-Ministro estará por trás de tudo.
Ora, sabendo ele de tudo isto, culpando a UnI por tudo isto, e conhecendo todo o mal que ela está a fazer à sua carreira, ao país, e a todos os alunos e professores da UnI, bons e maus, culpados e inocentes, de que está à espera para responsabilizar os que considera responsáveis, a entidade que acusa?
É que, na verdade, uma coisa é uma Universidade ter os seus arquivos e secretaria desorganizados; e outra, bem diferente, é a suspeita gravíssima de que vende diplomas por atacado. A primeira suspeita é, de certo modo, relativamente pouco importante; a segunda suspeita é gravíssima e afecta todos os alunos. A primeira não é suficiente para encerrar uma Universidade, a segunda é mais do que suficiente. A primeira não provoca despedimentos nem dúvidas, a segunda amontoa-as nos empregadores e colegas de profissão desses alunos.
Deste modo, como aluno da UnI, como objecto principal das suspeitas, como Primeiro-Ministro, a José Sócrates não resta outra solução do que defender-se (e a todos os alunos) atacando a referida UnI. Essa defesa-ataque não pode ser feita com o uso do poder, do poder de encerrar, de ameaçar, de esconder, de enviar batalhões de inspectores e de suprimir e queimar os documentos. Isso não é sequer legal nem defende os interesses dos milhares de alunos da UnI, que verão os seus cursos e diplomas ficarem sempre, para toda a eternidade, sob suspeita.
Aquilo que todos os alunos deveriam exigir de José Sócrates era que este encabeçasse a demonstração da transparência de todo o seu percurso académico nos Tribunais, que é onde estas questões se resolvem, responsabilizando a UnI, a sua organização administrativa e os seus arquivos, já que a considera ser responsável e por essas deficiências por todas estas dúvidas, e ilibando assim a questão pedagógica e científica da UnI, que, juntamente com o factor da proximidade do anterior estabelecimento de ensino, tanto justificou a sua escolha quando se inscreveu. E a UnI defender-se-ia como pudesse. Encerrá-la e queimar a documentação não é solução para os alunos que por lá passaram, incluindo aqui, obviamente, o Primeiro-Ministro.
Estão milhares de alunos sob suspeita de terem trocado os seus cursos por patacos, ao invés de os terem tirado com noites seguidas de salutar marranço, demonstração de sapiência e avaliação condigna, como certamente terá acontecido com José Sócrates. Essa imensidão de alunos inocentes clama ao Senhor Primeiro-Ministro: "demonstre, Senhor Primeiro-Ministro, inequivocamente, que o seu percurso académico no curso não deixa quaisquer dúvidas, para salvar todos os milhares de alunos que cursaram na mesma UnI. Ajude-nos! Salve-nos!"
O Senhor Primeiro-Ministro José Sócrates, pela posição que ocupa e exemplo que quer dar ao país, deve isto a estes milhares de alunos da sua UnI. Tem a obrigação de responsabilizar a UnI e demonstrar inequivocamente em Tribunal (agora que funcionam tão bem por sua intervenção) que o seu percurso académico é perfeitamente natural e habitual, como o de todos os restantes alunos da UnI e de outras Universidades, e que apenas a organização administrativa de dita UnI é que é deplorável, e que apenas por isso se amontoam dúvidas sobre a valia do seu canudo. E sobre a de todos os outros alunos aí formados.
Esta demonstração inequívoca é o mínimo que o Primeiro-Ministro pode fazer pelos alunos cuja formatura foi obtida pela UnI. Mandar o solícito Ministro Mariano Gago titubear explicações estremecidas para os jornalistas não chega. Os alunos da UnI, os seus colegas da UnI, aqueles jovens que desconsoladamente não pôde ensinar e formar já não sei bem por que motivo não lhe merecem menos. E o país agradece.
Caro Vasco, este Governo já se transformou num "Governo fantasma". É que a grande maioria das pessoas com quem se fala no dia-a-dia, já quase todas dizem que não votaram no partido socialista.
Embora o desempenho do Sócrates (em quem não votei, note-se!) estivesse a ser exemplar quando comparado com todas as dinastias que se seguiram à segunda (a última terminou no reinado do Santana), esta mancha assemelha-se às do Isaltino, Fátima Felg., Major V., etc. Não basta a obra, é preciso "coluna" para que ela sobreviva ao tempo. Curioso, também, é ver a imagem do Sócrates ser posta em causa pelo jornal da Sonae após esta ter perdido a OPA... o papel do Estado nesse processo foi uma vergonha, de facto, mas que não há almoços grátis... não há! Coincidências!
Abraço
P.S. Gostei de ouvir o Paulo Portas a dizer ao José Ribeiro e Castro, depois de lhe ter dados conselhos para ouvir os amigos e mudar de comportamento, "ó Zé, não sejas condescendente!". Pela coerência dou-lhe o prémio de carreira! Gostei de ouvir o Ribeiro e Castro; pena não ter imagem nem cadência comunicativa, mas que a substância é coerente, é! Enfim, não sou do CDS, a guerra não é minha. Quem for do CDS que a faça!
P.S.2. O comentário anterior era meu. Por azar o PC que utilizei tinha a conta de uma amiga açoriana que o utilizou. O seu a seu dono! Desculpa!
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