ABSTENÇÃO: Como se previa, a abstenção nas eleições europeias foi esmagadora. E continuará a ser até que os principais partidos decidam reformar o sistema, conferindo uma efectiva representatividade na relação eleitores-eleitos, desse modo permitindo uma responsabilização destes últimos. Até que isso aconteça, assistiremos a um progressivo desinteresse da população.
Já por diversas vezes escrevi que o corporativismo - na forma como é praticado em Portugal - é um dos cancros da nossa sociedade. É deplorável a forma como as várias categorias profissionais protegem os seus (como se de uma cosa nostra se tratasse), impedindo a normal responsabilização de quem erra, sejam juízes, médicos, advogados ou outros. O mais inacreditável é que esse tipo de corporativismo é também extensível aos políticos, únicos interessados na manutenção do status quo e que, dessa forma, protegem coutadas adquiridas e perpetuam-se nos cargos ao dispor. O sistema político tal como existe hoje é um sistema para os próprios políticos e não para os cidadãos, os quais não só não têm possibilidade de os responsabilizar directamente (só ao partido) como também não têm hipótese de participar senão pelas regras da própria "corporação", sujeitando-se aos sinuosos caminhos dos "aparelhos". Se fossem necessárias provas desta afirmação, veja-se a recente campanha eleitoral, em que não houve sequer a preocupação de debater as causas europeias (nem sequer a constituição!). É apenas um jogo de caras e lugares e de ganhar ou perder mandatos.
Perante este "totalitarismo" e perante a vontade instalada de que nada mude, as alternativas passam pela abstenção, pela adesão a projectos extremistas ou pela revolução.
Uma vez que as pessoas (ainda) entendem que a democracia é um bem supremo, a abstenção é a opção imediata. Outra consequência é a adesão ao bloco cripto-comunista de inspiração totalitária que, sob o disfarçe da modernidade, cavalga com competência o descontentamento crescente. A revolução, que seria o último recurso, pode ganhar corpo como alternativa se a degradação continuar a este ritmo.
Acho que é impossivel haver uma Revolução numa Democracia, visto que não há uma melhor alternativa. É impensável, no século XXI, ter um governo Comunista, e ainda por cima, na Europa. Depois do 25 de Abril, já era complicado, quanto mais agora...
Este problema, que não é só nosso, é tratado de modo diferente nos estados do Norte da Europa. A Política, nesses estados, também está a perder participação, mas em compensação, as ONG´s e movimentos de cidadania, estão a ganhar força. Ou seja há cidadania, não em termos de intervenção Política, mas em questões mais diversas, como é o caso da Ecologia, saúde, etc...
O problema é a nossa apatia, o modo como nos submetemos, sem levantar ondas. Isto é, no meu entender, uma questão de educação. Fomos ensinados assim, e é mais fácil não fazer nada. Só através de uma política educativa eficaz, se pode alterar este desprezível hábito da passividade.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.