A PROPÓSITO DA CAVALA: O episódio ocorrido no programa "Hora Extra" da SIC, retratado no post "Gastronomia Variada", é mais um dos múltiplos exemplos em que o poder da comunicação social (neste caso, via apresentadora "cavala") se manifesta de forma ditatorial e despótica sobre um convidado (e, neste caso, sobre o seu representado), o qual é perfeitamente enxovalhado pelo simples facto de não alinhar pela "verdade" que o programa pretende impôr à sua audiência. Este caso, lembra-nos inúmeras situações na comunicação social - essencialmente na televisão - em que os factos ou opiniões são apresentados de forma direccionada, ao sabor do livre arbítrio de uma redacção ou mesmo de um jornalista cuja legitimidade (?) para tal poder decisório é mais do que questionável.
Pensemos no seguinte:
- a televisão pode vender um presidente da república da mesma forma que um sabonete;
- se um acontecimento não for divulgado na televisão é porque não existiu;
- raramente o canal público de televisão deixou de ser alvo de tentativa (em alguns casos consumada) de manipulação.
É impossível fugir ao facto de que a televisão é, efectivamente, o quarto e o mais forte dos poderes. Sendo certo que uma televisão livre é um garante do sistema democrático, resta saber se uma televisão "à rédea solta", com total e ilimitada liberdade de acção e sem fiscalização ou regulação sancionatória de qualquer espécie (ou minimamente eficaz) - e logo, susceptível de manipulação - não será, em si mesma, uma ameaça à democracia.
Obviamente, a solução não residirá na censura, de má memória, mas, não seria possível uma qualquer espécie de controlo por meio de uma entidade que reflectisse o espectro democrático?
Atendendo à alienação reinante na sociedade em que vivemos, de total ausência de espírito crítico, em que as pessoas vegetam em frente aos televisores, recebendo e assimilando passivamente como boa a informação (e opinião) que lhes é transmitida, deverá tal poder ficar nas mãos de pessoas que não foram minimamente legitimadas para o efeito?
E não deverá tal poder ser utilizado como forma de alavancar uma melhoria educacional e cultural dos cidadãos, em vez de os tentar cativar numa guerra sem quartel por via da escatologia, da acefalia e da sordidez?
Oliver Stone preparava-se para lançar um documentário sobre Fidel Castro quando este último decidiu fuzilar e encarcerar uns quantos opositores. Stone viu-se obrigado a adiar a apresentação do documentário (encomendado por um canal de televisão americano) o qual, segundo parece, desculpava alguns vícios do regime e justificava em grande parte com o embargo a miserável realidade do país. Quando, em entrevista recente nos Estados Unidos, Stone foi confrontado com os recentes acontecimentos, por oposição ao seu documentário "cor-de-rosa", terá respondido algo como: "Como é que você pensa que vive em democracia quando toda a informação é manipulada?"
Dirigentes mediocres só conseguem alcançar e permanecer no poder se a população for igualmente mediocre. Talvez esta manipulação explique muito do estado a que chegou a realidade do panorama televisivo neste país.
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