ESTÉTICA E POLÍTICA (2): A glorificação dos anos sessenta (que para efeitos desta discussão se pode dizer se estenderam, em Portugal, pelo menos até ao Verão Quente de 1975) feita pelas classes dominantes (terminologia bem ao espírito do tempo) sempre despertou em mim a maior desconfiança, tendo chegado a criar, ainda que apenas temporariamente, uma certa repulsa estética pelos vestidos às flores, calças à boca de sino e generosas jubas que eram emblemas dessa época. O mesmo posso dizer relativamente aos colectivismos e voluntarismos políticos típicos dessa geração. Penso que a minha opinião reflecte de certa forma o que grande parte das pessoas da minha idade pensam.
Graças à liberdade pós 25 de Abril (provavelmente devedora da geração dos anos 60) a minha geração teve sempre uma atitude mais pragmática, mais cínica ou desconfiada e mais despreocupada ou livre. Para quê manifestarmo-nos pela liberdade sexual se só serviria para perder tempo que poderia ser utilizado, por exemplo, a dormir com a namorada do liceu ? Porquê glorificar ou recomendar o uso de drogas, como sinal de uma via alternativa de vida, se os charros eram de acesso tão livre como os rebuçados e o maior problema era evitar cair nas malhas do vício ? Porquê fazer da música ou da poesia um instrumento político se em casa se ouvia falar das desilusões dos aventureirismos políticos ?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.